terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Não faz mais sentido.

Começa assim. Com a paixão mais egoísta de todas. Com os mais intensos sonhos adolescentes. Toda menina sonha com aquele que vai fazer o seu coração bater mais forte. Tão forte que não se contenha dentro do peito. O que eu digo com paixão egoísta é aquela que, quando somos muito jovens, queremos apenas a agonia inefável das paixões de verão. Tudo ao extremo, os maiores sentimentos, alguém que não consiga mais viver sem a gente. Por que toda aquela coisa de criança, de brincar na solidão, não faz mais tanto sentido.

Depois vem aquela paixão menos dramática, mais comedida, em que a liberdade dos anos, adquirida, nos faz não precisar mais de namorar escondido. Quase tudo é permitido e por-favor-me-conta-todos-os-teus-segredos. Aquela coisa de sofrer por saber demais. Por que todo aquele delírio, não faz mais tanto sentido. E eu quero compromisso.

Aos poucos a exigência com o outro vai aumentando e a necessidade de sentir um amor intenso vai diminuindo e toda aquela história de coração pulsante, sempre disparado, de mãos suadas e borboletas no estômago vão dando lugar ao discurso de que-eu-quero-a-sorte-de-um-amor-tranquilo, aquele com sabor de fruta mordida. Por que o sofrimento dos segredos (para quê sabê-los?) não faz mais tanto sentido.

E eis que depois de um tempo, com ou sem ninguém, a vontade de amar já não é tão grande e a gente só quer alguém que seja um bom pai para os nossos filhos ou que, não havendo filhos, seja aquele que sabe tratar bem. Por que sabe...aquela coisa toda de amor tranquilo, nada mais é do que um capricho, e já não faz mais tanto sentido. Eu só quero filhos.

Os anos se passam e a gente percebe que não precisa sentir tanto assim, por que sentir dá trabalho e o poeta já dizia que-não-se-pode-amar-e-ser-feliz-ao-mesmo-tempo. E aí só precisamos realmente de alguém a quem suportamos os defeitos, com quem conseguimos dividir o leito, sem brigar pelo edredon. Alguém com quem dê para conversar apenas e envelhecer juntos na varanda. Por que sabe...aquela coisa de família e de filhos, já não faz o menor sentido. Todo mundo já se criou.

E talvez no fim dos tempos, todo o amor do mundo, ao longo contido, volte para dentro do peito e fique comigo. Por que sabe...toda aquela coisa de alguém com você pra sempre, não faz mais tanto sentido. E eu quero dormir sozinho.

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